Galera, li essa matéria tem um tempo já e estou aqui compartilhando com vocês a vergonha que é o cenário da música independente. Esse texto será sempre atual. Uma pena né? Abraços !!!
A quem interessar possa,
Depois de alguns anos fazendo shows estou preocupada. Já passei por muitos perrengues, mas fiquei aterrorizada como o que escutei de um produtor sobre um show no final de semana passado. Aconteceu em uma casa até bem conhecida de quem faz shows no circuito independente do Rio e o fato, somado a situações que eu mesma tenho vivido ultimamente, me levou a fazer alguma coisa.
Essa é uma carta para ser "postada" nos fotologs e sites ou repassada por ai para quem vocês acharem que deve ler, pois é um apelo pela profissionalização de um novo segmento do mercado, que pode ser lucrativo quando bem trabalhado, mas que precisa de ações em pról do desenvolvimento e da qualidade.
Sobre o fatídico show ele me relatou o seguinte:
O som foi liberado tarde e a casa não estava cheia, o atraso e falta de público deixaram o dono da casa irritado, pois queria fechar cedo o estabelecimento visto que tinha tomado um ferro na bilheteria. O show era uma produção de um cara que faz eventos independentes, ele deve ter feito um acordo de bilheteria com a casa. Para resolver o atraso provocado pela produção local algumas bandas de abertura foram cortadas e a primeira das bandas principais tocou sob muita pressão dos caras da casa, que queriam acabar logo com o evento. Como havia gente para prestigiar a segunda banda, ele entrou no palco e tocou, mas o final, na última música, as luzes foram apagadas e o público começou a ser expulso aos berros, que logo se tornaram socos e chutes por parte dos seguranças.
Muitos fãs foram machucados, dentes quebrados, rostos feridos. O produtor que fazia o evento já tinha ido embora (antes do show terminar) e, quando ligaram para ele, disse que não podia fazer nada. A polícia foi chamada, mas os seguranças da casa eram PMs.
Estou extremamente preocupada, pois o mercado independente de shows (no segmento que trabalho) se tornou um bom negócio, o que faz com que qualquer um que antes organizava a formatura da escola sinta que pode se dizer “produtor de eventos” para faturar as custas das bandas.
A questão é que esses caras não entendem nada produção e são estúpidos suficiente para te ligar e perguntar se precisa mesmo do som e luz que você pediu, como se isso fosse um luxo e não necessidade. Eles não sabem a importância da divulgação e acham que o boca-a-boca vai resolver tudo, que a internet basta (não, queridos, ela ajuda, mas não é tudo!), tomam um ferro e dizem que a banda não vai bem, que ela não leva público.
Eles não têm dinheiro para bancar um evento e resolvem isso colocando 20 bandas de abertura vendendo ingresso para tocar, depois dizem que ajudam as bandas dando espaço, mas na hora que o cronograma aperta começam a cortar ou encurtar as apresentações dessas mesmas bandas sem nenhum compromisso e sem se preocupar com o quanto é trabalhoso para qualquer banda (grande ou pequena) estar ali.
Esse tipo de produtor não se preocupa com a segurança do público e com o fato de que a proporção de seguranças/espectadores deve ser de pelo menos 1 para cada 50 pessoas e que esses seguranças devem ser gentis sempre e firmes quando necessário, mas que nada lhes dá o direito de agredir alguém do público. Eles com certeza não sabem a importância do aterramento do palco (não sabem nem o que isso quer dizer), montam estruturas passíveis de desabamento, excedem a capacidade de locais que não contam com saída de emergência, vendem bebida a menores, fazem evento sem as liberações devidas e, com certeza, não pagam ECAD (ainda que eu mesma questione a efetividade deste recolhimento).
Os produtores em questão cancelam atrações e desmarcam eventos na véspera sem devolver o valor do ingresso e sem maiores motivos ou explicações. Somem antes do evento acabar para não pagar fornecedores e as bandas e submetem as atrações a situações como: superlotação da casa, atrasos, estrutura precária, luzes acesas antes de a apresentação terminar, roubo de equipamento e nenhuma estrutura de camarim.
Eles não entendem que se pede comida e bebida porque as bandas passam muitas horas no local do show e muitas vezes (por conta da hora ou da geografia) não há onde recorrer por comida. Não vêem que toda a produção de uma banda está a trabalho e conta com aquilo para pagar contas no final do mês, que muitas pessoas deixam de estar em outros compromissos ou com a família para atender àquele evento, que a divulgação (ou a propaganda) é a alma do negócio, e que o espectador não é idiota e sim cliente.
É claro que trabalhar com música é bom, parece muito divertido e às vezes nem parece trabalho. No entanto, é sim trabalho, é muito cansativo e demanda uma força de vontade descomunal visto as situações as quais somos colocados diariamente.
Para estar envolvido nesse mercado, para fazer eventos, é preciso ser muito profissional!
É necessário ter noção das dimensões de um evento, da importância de uma pré-produção bem feita, de ter responsabilidade para seguir o cronograma e dispor de boa estrutura de som, luz e palco, deve-se conhecer a relevância da figura do Diretor de Palco, do Chefe de Segurança, de bons Divulgadores, e pessoas com conhecimentos técnicos específicos (inclusive eletricista!). É fundamental ter fornecedores competentes e bem dispostos a resolver problemas e cooperar com as bandas e é essencial estar ciente de que o evento não pode contar com a bilheteria para se pagar, pois não é justo deixar de pagar (caso não haja o retorno esperado) quem já prestou o serviço e esteve à disposição daquela produção.
Estou exausta das situações as quais bandas e equipes vêm sendo submetidas por pura incompetência de quem nos contrata, e gostaria muito que todas as bandas fossem mais exigentes em relação aos produtores que estão por ai. Sei o quanto é difícil, eu mesma sofro do mal do “tocar ou não, eis a questão” e admito ter sido bastante complacente muitas vezes, mas é muito importante para nós, como banda e como profissionais sabermos o que é imprescindível e não abrirmos mão de qualidade e segurança para o público e para nós mesmos.
Independente do tamanho do evento, de se há cachê ou não, prover uma estrutura honesta é o mínimo que devemos exigir, e depende de nós prezarmos por isso.
Da mesma maneira, se você se diz produtor e se encaixa na descrição acima, produre melhorar nas questões citaads ou, por favor, procure outra maneira de ganhar dinheiro. Caso não seja esse o caso, por favor, nos chame para tocar na próxima edição do seu evento.
Atenciosamente,
Liana Brauer (Produção Scracho)
Postagem Original:
http://batecabecaproducoes.blogspot.com
quinta-feira, 7 de agosto de 2008
Assinar:
Postar comentários (Atom)

Um comentário:
Maneiro! Pura realidade. Mas vamos que vamos, porque a gente já sabe que o caminho é longo há muito tempo!
Postar um comentário